Desde o início do ano o governo Dilma vem baixando
drasticamente as taxas de juros, reduzindo impostos de alguns setores, na
tentativa de estimular a economia. Entretanto, até o momento não se verificou o
resultado esperado, que segundo o governo, deve vir no segundo semestre.
Ocorre que mesmo com o aumento no volume de crédito e juros
mais baixos, o brasileiro não consegue mais pegar financiamento algum para aquisição
de bens de consumo, sobretudo os duráveis, como automóveis. Não há mais folga
no orçamento para novas aquisições. O governo parece que se esqueceu de que,
quem tinha um pouco de folga no orçamento adquiriu carro novo há 1 ou 2 anos
atrás com prazo de financiamento de 60 meses, na maioria, automóveis 100%
financiados. Hoje o preço de seus carros são menores que o saldo devedor do
financiamento, o que inviabiliza qualquer novo negócio.
Porém, segundo o governo Dilma, hoje 70% do país é classe
média, e com a nova forma de cálculo. Família com renda per capita de R$ 300,00
a R$ 1.100,00 é considerado classe média. Então quer dizer que numa família de
3 pessoas, e cuja renda é de míseros R$ 900,00, a família é considerada classe
média! Uma verdadeira piada. A família gastara 90% de seu salário somente com
comida, que tem subido os preços na faixa de 10% ao ano. Ela terá como pagar um
aluguel que hoje não existe por menos de R$ 500,00 na vila mais simples ou R$ 300,00 no barraco
da favela. Ainda terá conta de luz, de água (se não for ligação clandestina,
única maneira de sobreviver), mais os gastos com educação, remédios, roupas
etc. Imagine uma família com 2 pessoas, mãe e filho, de apenas 1 salário mínimo
(R$ 622,00) ser considerada classe média! Chega a ser um deboche. Em 2005, ano
que ingressei no mestrado em economia do
desenvolvimento, classe média era a família com renda mínima de R$ 3.500,00.
Hoje virou 1 salário mínimo. Pois bem, virou classe média apenas na propaganda
governamental, como que essa família pudesse ter um automóvel novo, pudesse se
dar ao luxo de viajar em turismo pelo país e frequentar restaurantes da classe
média.
O automóvel mais barato, que custa R$ 21.900,00, financiado
100%, com taxa de 1,69% ao mês (alguns diriam que tem mais baixa, mas digo que
na verdade para esse prazo longo de 60 meses, é o mínimo que se encontra no
mercado), dará uma prestação mensal de R$ 583,00, sem considerar o IOF sobre o
valor total do financiamento e que será diluído nas parcelas e mais o custo do
boleto bancário mensal. Temos que considerar ainda, o gasto com o seguro, que
mesmo sendo um carro barato, é alvo de ladrões (Mille Fire), e na maioria das
capitais não fica por menos de R$ 1.500,00. O que representa mais um gasto
mensal de R$ 150,00 (em mais de 5 parcelas as seguradoras cobram juros mensais
de 3%, o que dará exatamente R$ 150,00 por mês em 12 parcelas. O gasto com o
automóvel subiu para R$ 733,00, e devemos ainda somar o gasto com gasolina, de no
mínimo 1 tanque por mês, mais R$ 112,00. Total: R$ 845,00.
De fato Presidenta Dilma, uma família com 3 pessoas e renda
de R$ 900,00 ou família com 4 pessoas e renda de R$ 1.200,00 é classe média. O
pobre dos EUA ganha UD$ 600,00 por mês (per capita), ou seja, R$ 1.200,00. Uma
família com 4 pessoas teria renda então de R$ 4.800,00. O que para cá é
considerado rico pelo governo, pagando imposto de renda de 27,5%. Sendo que o norte-americano
paga R$ 21.700,00 por um New Fiesta, e aqui paga-se R$ 48.000,00. Aqui os juros
mensais são de R$ 1,69% ao mês, por lá é de 0,5% ao mês no máximo.
De volta à questão do PIB, para uma economia crescer, ela
tem que crescer no todo, como agricultura, indústria, comércio e serviços, fora
os gastos governamentais. A agricultura vai de mal a pior, fazendeiros
endividados devido à seca severa que assola sul e nordeste do país, e com menos
intensidade na região centro-oeste. A indústria com queda mensal de produção
devido à baixa demanda o que reflete no comércio em geral, ficando apenas a
parte de serviços com pequeno crescimento.
Outro ponto foi o grande volume de financiamentos
imobiliários, que devidos aos altos valores dos imóveis no país, não se pagam
menos de R$ 800,00 por mês numa prestação por um minúsculo apartamento.
Ademais, a defasagem do salário de boa parte do
funcionalismo federal, onde o auxílio alimentação é de míseros R$ 304,00, cujos
salários não têm reposição desde 2007, e os funcionários estaduais, com
salários ainda mais defasados, afetam também o PIB do país. Pois gastar com
funcionalismo não é dinheiro jogado fora, funcionários públicos consomem
produtos comoo setor privado. Não é dinheiro jogado pelo ralo. Todavia, a
política atual dos governos é o contrário. Acham que investimento é apenas construir
ponte ou prédios novos numa universidade federal, não existindo
recursos-humanos.
Resumindo: quem comprou, comprou, e só comprará novamente
daqui uns anos. O efeito principal não é a crise externa, mas o endividamento
da população interna.